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Os erros que se repetem
O governo Lula acredita firmemente que a melhor maneira de gerir a economia é por meio do aumento da participação do Estado. A recusa em cortar gastos públicos e a proibição de privatizar estatais são sinais claros dessa estratégia.
Os modelos de ajuste fiscal empregados no mundo focam em cortes de gastos ou elevação de impostos ou geralmente numa combinação dos dois, sendo os que priorizam a redução de despesas públicas os mais bem sucedidos.
O natimorto arcabouço fiscal foi sui generis ao envolver simultaneamente crescimento de gastos e das receitas.
Manobrando a contabilidade, ao excluir despesas do cômputo do resultado primário do Tesouro Nacional, e perseguindo o aumento da arrecadação, o governo tenta a todo o custo a obtenção de um déficit primário zero, indicador enganoso de seu compromisso com a saúde das finanças públicas.
Os artifícios para evitar que gastos tenham impacto sobre o resultado primário estão erodindo a credibilidade desse indicador da política fiscal ao se transformar em prática das atuais autoridades econômicas. Seu emprego se repete recentemente com as despesas para restituição dos descontos indevidos aos aposentados e pensionistas do INSS e com o pacote de mitigação dos efeitos do tarifaço.
Do ponto de vista econômico, o relevante é o que se passa no mundo real e não o número gerado pela contabilidade criativa. Nesse contexto, os mercados observam a evolução da dívida bruta e o sinal transmitido por ela não é bom, como evidenciado pela persistência de prêmios significativos incorporados nas taxas de juros de títulos públicos. A relação dívida/PIB atual de 76,6% é a mais alta desde 2011, excetuando o ano da pandemia.
O reequilíbrio fiscal será viabilizado somente com a geração de superávits primários. Por sua vez, isto depende de reformas que impliquem em profundos cortes de gastos públicos, incompatíveis com a crença ideológica do governo.
Da mesma forma, a gestão de empresas estatais, bancos públicos e companhias não financeiras, tem sido utilizada ativamente para alavancar a presença do Estado na economia.
O BNDES voltou a expandir o crédito em ritmo acelerado, competindo inclusive com Banco do Brasil e Caixa Econômica no financiamento ao setor agropecuário.
As LCDs (letras de crédito de desenvolvimento) emitidas pelo BNDES, isentas de imposto de renda, passaram a competir com as letras de emissão da iniciativa privada (LCAs, LCIs, LHs, CRIs) diminuindo espaço para esta no mercado de capitais.
A BNDESpar, subsidiária do BNDES, não só cessou a venda de ações de sua carteira como retornou à política de adquirir participações em empresas concorrendo com veículos de investimento privado.
No segundo trimestre de 2025, o Banco do Brasil registrou percentual recorde de perdas na concessão de financiamentos, o que sugere problemas na análise de crédito. Num contexto em que a economia cresce há vários anos, é surpreendente o recorde de perdas com crédito.
As estatais não financeiras voltaram a apresentar prejuízos, destacando-se entre elas os Correios. A empresa registrou em 2024 elevação de R$ 700 milhões nas despesas gerais e administrativas e um prejuízo total de R$ 2,6 bilhões, valor considerável até porque os riscos operacionais em sua atividade no curto prazo são tipicamente baixos.
Na Petrobras há elementos de preocupação: o afrouxamento da governança, o abandono da meritocracia substituída por critérios políticos, a despreocupação com custos e geração de valor, a má alocação de capital no investimento em projetos em setores onde a companhia fracassou no passado e o foco no pagamento de dividendos num ambiente de elevado nível de amortizações de arrendamentos.
No curto prazo, a Petrobras vem apresentando bons resultados beneficiando-se de vários fatores. Primeiro, a reestruturação levada a efeito entre 2016 e 2021 reduziu custos administrativos e operacionais e eliminou fontes de desperdícios com a venda de ativos e privatização de empresas. Segundo, a persistência de níveis confortáveis de preços do petróleo, acima de US$ 80 por barril em 2023 e 2024 e entre US$65-70 em 2025. A baixa volatilidade de preços de combustíveis desde 2023 tem inclusive permitido que durante algum tempo os preços domésticos permaneçam abaixo dos preços internacionais sem gerar prejuízos significativos.
Olhando para o futuro próximo, na melhor das hipóteses a manutenção dos atuais níveis de rentabilidade se verá seriamente ameaçada num cenário de preços mais baixos, como parece provável.
Há cerca de dez anos tivemos uma recessão profunda que se prolongou por 34 meses, segundo a FGV, a mais longa desde 1980. Tal recessão, vale lembrar, não foi derivada de um choque externo, mas sim da aplicação do rationale econômico de hoje, o Estado como motor do desenvolvimento econômico. Repetir os mesmos erros não é acaso, é opção. E opções erradas cobram seu preço.
Roberto Castello Branco é doutor em economia e membro do Conselho de Leis do Ranking dos Políticos

O que mudou na cabeça econômica do brasileiro em 2 décadas
Por Nilson TeixeiraConselheiro do Ranking dos PolíticosEste texto explora o capítulo “O capitalismo e seus descontentes”, que escrevi em coautoria com Alberto Carlos Almeida, para o seu livro “A Cabeça do Brasileiro, vinte anos depois: o que mudou”, recentemente publicado. Os seus sete capítulos resultam de um trabalho iniciado há mais de duas décadas, quando foi realizada, pela primeira vez, a Pesquisa Social Brasileira (PESB). Em 2002, a PESB explorou a percepção dos brasileiros sobre diversos temas. Vinte anos depois, em 2023, a pesquisa voltou a campo, permitindo comparar visões sobre religião, demografia, política, economia e instituições. Do lado econômico, a PESB analisou a percepção sobre o papel do Estado, do setor privado e do capital estrangeiro.
O Estado ocupa, historicamente, um espaço central no Brasil. A presença estatal vai além de funções clássicas como segurança, saúde e educação. Inclui regulação de preços e participação direta em setores como petróleo, serviços bancários, infraestrutura e proteína animal. Essa abrangência ajuda a explicar por que, mesmo após duas décadas, a PESB identifica apenas um leve declínio na preferência pela intervenção estatal. A maior parte da população continua defendendo que o governo interfira em resultados do livre mercado, sem nenhum indício de avanço liberal relevante.
O apego ao Estado pode estar ligado à crença de que o setor público é mais confiável e oferece mais benefícios do que o setor privado. Apesar de o país ter presenciado avanços institucionais entre 2002 e 2023, como a consolidação do regime de metas de inflação, maior flexibilidade cambial, autonomia formal do Banco Central e amadurecimento do conceito de responsabilidade fiscal, a leitura sobre o papel do Estado pouco mudou. Parte da explicação reside na crença de que os recursos públicos são inesgotáveis e podem sustentar enormes renúncias tributárias, bem como transferências não apenas para as camadas mais pobres da sociedade, mas também para grupos influentes.
A PESB comprova que a sociedade não rejeita privilégios para grupos influentes, como algumas carreiras do serviço público que recebem remunerações bem acima do teto constitucional e dos recebidos no setor privado. Também não há resistência significativa aos gastos tributários com baixa ou nula eficácia. O caso do Simples é emblemático: as ampliações de seu limite de enquadramento não contribuíram para a formalização no mercado de trabalho nem para ganhos de produtividade, mas o mecanismo segue amplamente defendido.
A percepção pública pavimenta a inércia política no sentido de manutenção de isenções fiscais, apesar de seus custos e ineficiências, ilustrando a dificuldade de retirar privilégios. As renovações contam com apoio disseminado, mesmo entre congressistas de regiões prejudicadas, confirmando a falta de compreensão sobre os custos da alocação ineficiente dos recursos públicos. Esse comportamento também se reflete na proliferação de frentes parlamentares, que frequentemente reúnem muitos representantes sem ligação direta com o tema. A lógica é de que não há custos em apoiar benefícios setoriais, um raciocínio que despreza o efeito sobre a sustentabilidade fiscal.
Nesse contexto, o debate é influenciado por correntes que defendem o aumento de gastos públicos como motor do crescimento, apostando que o impulso levará à maior arrecadação e à redução do déficit fiscal. Essa narrativa ganha força quando a dívida pública doméstica é comparada à de países com números bem maiores, sem levar em conta diferenças fundamentais.
Apesar da continuada preferência por intervenções diretas do Estado, houve avanços na forma de prover apoio às camadas mais pobres. As transferências diretas de renda, como o Bolsa Família, ampliaram a autonomia dos beneficiários e a eficiência no uso de recursos. Todavia, o mesmo princípio não se aplica a outros programas, que propõe distribuição direta de produtos.
A pesquisa também analisou a visão da sociedade sobre o capital estrangeiro. Em comparação com 2002, o brasileiro de 2023 é menos protecionista e mais favorável à presença de empresas estrangeiras, inclusive na propriedade de terras agrícolas. A aceitação da remessa integral de lucros ao exterior e o apoio a incentivos para atrair multinacionais indicam redução do viés nacionalista, embora ainda haja resistência em certos segmentos da população.
Os resultados da PESB permitem, portanto, várias conclusões. Uma delas é de que, embora tenha havido pequenas alterações na preferência pelo papel do Estado e na percepção sobre o capital estrangeiro, o brasileiro permanece fortemente estatizante. Outra é que, em muitos casos, a sociedade tolera, ou até apoia, políticas que beneficiam grupos restritos em detrimento da coletividade por desconsiderar os custos dessas escolhas.
Em suma, o capítulo “O capitalismo e seus descontentes” traz análises detalhadas desses e de outros pontos. Do mesmo modo, o livro discute assuntos, entre os quais, “O brasileiro e a lei: como o jeitinho, e a falta de confiança e o patrimonialismo nos condenam ao atraso” e “A cabeça religiosa do brasileiro”, que merecem ser lidos pelos que querem compreender a mudança de visão nos últimos 20 anos e a razão de ideias equivocadas pouco terem se alterado nesse período.
Nilson Teixeira é Ph.D. em economia e membro do Conselho de Leis do Ranking dos Políticos

Pesquisa revela indecisão no Congresso sobre partidos políticos e candidaturas independentes
Levantamento do Ranking dos Políticos revela insatisfação com a representatividade dos partidos e mostra que mais de um terço dos parlamentares já cogitou trocar de legenda.
Uma pesquisa inédita do Ranking dos Políticos, realizada com 138 parlamentares (110 deputados e 28 senadores), aponta um retrato de insatisfação e ceticismo sobre o atual sistema político-partidário brasileiro.
“Essa pesquisa foi bem interessante de captar. Identificamos nas entrevistas que candidatura independente ainda é um tema pouco conhecido e debatido entre os parlamentares. Impressiona descobrir que pouca gente tem noção do que significa candidatura avulsa, mesmo sendo uma prática permitida em 90% dos países do mundo, enquanto, no Brasil, ainda não é”, afirmou Luan Sperandio, diretor de operações do Ranking dos Políticos e coordenador dessa pesquisa.
O levantamento expõe que mais da metade dos deputados federais (51,8%) considera que os partidos representam “pouco ou nada” os interesses da sociedade. No Senado, porém, a percepção é mais positiva: 71,4% avaliam os partidos como “muito” ou “razoavelmente” representativos.
Mesmo com críticas à representatividade, a maioria dos parlamentares afirma estar satisfeita com o papel de seus partidos e com as orientações de voto que recebem. Essa aparente contradição revela um paradoxo do sistema atual: há desconfiança sobre a conexão dos partidos com a sociedade, mas reconhecimento da sua importância como estrutura de sustentação política.
Outro dado que chama a atenção é que mais de um terço dos parlamentares admite já ter sido obrigado a mudar o voto por orientação partidária — 42,9% no Senado e 38,2% na Câmara. Além disso, 29% dos deputados e senadores disseram que pretendem ou consideram mudar de partido ainda nesta legislatura, o que reforça a fragilidade do vínculo ideológico com as legendas.
Candidaturas avulsas dividem opiniões
O estudo também investigou a percepção sobre a possibilidade de candidaturas independentes, sem vínculo partidário. No Senado, 46,5% apoiam a ideia — sendo 25,1% para cargos majoritários e 21,4% para todos os cargos. Na Câmara, 41,8% são favoráveis, mas a maioria (51,8%) é contra.
Apesar disso, apenas um terço acredita que as candidaturas avulsas trariam maior renovação política. Para a maioria, o impacto seria limitado, já que os partidos ainda detêm estrutura, financiamento e tempo de TV, considerados essenciais para viabilizar campanhas.
Quando questionados sobre o eventual impacto das candidaturas avulsas na renovação política, a maioria dos parlamentares entrevistados acredita que candidaturas avulsas não impactariam a renovação política: 46,4% na Câmara e 53,6% no Senado. Para 35,4% e 32,1%, respectivamente, haveria aumento da renovação. Ainda assim, poucos acham que poderia haver uma redução na renovação (6,4% na Câmara e 3,6% no Senado), e cerca de 11% não souberam responder.
“Esses dados indicam uma percepção predominante de neutralidade ou desconfiança quanto à eficácia das candidaturas avulsas como instrumento de mudança política”, enfatizou Sperandio.
Direita apoia mais candidaturas independentes; esquerda resiste
A pesquisa mostra um claro recorte ideológico sobre o tema: entre deputados de partidos de direita, sete em cada dez são favoráveis às candidaturas avulsas. Já entre os de esquerda, nove em cada dez são contrários. No centro, a divisão é mais equilibrada, com metade apoiando a proposta.
“Isso indica que há margem para articulação e convencimento especialmente entre os partidos de centro, enquanto na esquerda predomina uma resistência mais rígida e majoritária ao tema na Câmara dos Deputados”, explicou o Ranking dos Políticos na pesquisa.
Para Sperandio, o tema não deve ser ideologizado, pois a questão se trata de direitos humanos. “A não exigência de filiação partidária é, por exemplo, prevista no Pacto de São José da Costa Rica, um tratado internacional que estabelece um conjunto de direitos e liberdades civis e políticas e do qual o Brasil é signatário", concluiu.
A força dos partidos ainda pesa
Apesar da crescente discussão sobre flexibilização do sistema, os partidos ainda exercem forte controle sobre as decisões dos parlamentares e continuam sendo vistos como elementos centrais para a governabilidade. Como aponta a equipe do Ranking dos Políticos, “há um paradoxo entre crítica institucional e fidelidade prática”, que revela a complexidade do debate sobre reformas políticas no Brasil.
A pesquisa foi realizada entre 8 e 16 de julho de 2025, com margem de erro de 3,5 pontos percentuais e nível de confiança de 95%. Os entrevistados foram abordados pessoalmente ou por telefone, respeitando a proporcionalidade das bancadas e o espectro ideológico no Congresso Nacional.
Sobre o Ranking os Políticos
Desde 2011 o Ranking dos Políticos tem como propósito melhorar a eficiência da máquina pública e aprimorar o ambiente de Negócios por meio de transparência para o desempenho e performance dos representantes no Congresso Nacional, de forma apartidária e independente. Nosso levantamento leva em consideração os pilares antidesperdício, anticorrupção e antiprivilégios.
Temos como missão: Avaliar o desempenho dos parlamentares e influenciar decisões do Congresso Nacional para promover a eficiência do Estado brasileiro.
Visão: Contribuir para que o Congresso Nacional se torne uma instituição de orgulho para os brasileiros.
Valores: Integridade / Transparência / Eficiência / Visão de dono / Liberdade / Responsabilidade individual / Defesa do Estado de Direito.
Nossa área de inteligência promove ainda pesquisas e estudos com a finalidade de promover a educação cívica dos brasileiros.
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